ARQUIVOS DE PESQUISA DA ACADEMIA


I-062
Tipo: Indivíduo
Localização: [REDIGIDO]
Classificação: Sexto Elemento
Nível de Segurança: Médio

Manutenção: 062 deve ser mantido em um quarto padrão para Indivíduos sob custódia, com as seguintes modificações: ao invés da porta eletrônica regida por senha, uma porta metálica padrão deverá ser feita, com fechadura manual; não deverá haver câmeras no quarto do indivíduo, ou num raio de 36m deste. Qualquer dispositivo munido de um sensor ou capaz de capturar imagens deverá ser desabilitado na ala onde I-062 é mantido. O indivíduo deverá ser visitado três vezes por dia para suas refeições dentro do quarto por três agentes armados, que deverão fazer também a inspeção do quarto. Sob as ordens da Dra. Gregorii, ela deve ser a única com permissão para se comunicar com I-062, caso este tente falar com qualquer outro empregado da academia, deverá ser tranquilizado imediatamente.

Notas de pesquisa da Dra. Grigorii:

"Talvez você queira não trazer seu celular na próxima vez, doutora. Não é como se eu pudesse contar para alguém daqui, é claro, mas... ah, as coisas que eu ouvi. Seus colegas sabem, pelo menos?"
- Transcrição da Entrevista de I-062 com a Dra. Grigorii.

O Indivíduo 62 (I-062), originalmente registrado como [REDIGIDO], é um homem cis, que tinha 35 anos quando foi tomado em custódia da Academia. O perfil médico-psiquiátrico de I-062 o demonstra, em qualquer outra área, como um indivíduo saudável para sua idade, com exceção de seu agressivo glaucoma, que o fez perder a visão aos 27 anos.

Por meios ainda não extraídos por entrevista, o Indivíduo parece capaz de conectar-se mentalmente com dispositivos capazes de capturar imagem e sons, apesar de que, quando sua custódia foi iniciada, esta habilidade estendia-se apenas a câmeras de segurança pelas quais este é capaz de enxergar. Uma vez que se conecte a um dispositivo, pode manter-se enquanto se concentrar, além de invadir por completo o sistema ao qual o dispositivo está conectado. Para iniciar o contato, porém, é necessária certa proximidade do objeto, aproximadamente 35 metros de distância.

O indivíduo foi descoberto após um chamado por [REDIGIDO], empresa de segurança, vítima de um vazamento dos dados de diversos de seus clientes. Apesar de inicialmente preso por invadir o sistema, o indivíduo 62 escapou por duas vezes, ambas chantageando um dos funcionários na penitenciária com informação sensível. Foi apenas então que a Academia se envolveu, uma vez que o comportamento estranho das câmeras permanecia mesmo durante a detenção do que, na época, pensava-se ser apenas um hacker.

O perfil psicológico traçado do indivíduo demonstra uma personalidade manipuladora e sádica. Ele parece ter apenas interesse em desenterrar segredos e expô-los, independente da vítima. Enquanto não tenho certeza se ele deve receber a confiança da Federação, irei fazer uma nota pessoal do possível uso para espionagem no projeto [REDIGIDO].

Adendo 1: após comunicação acidental por I-062 com um agente responsável por sua manutenção, Dra. Grigorii foi indefinidamente suspensa de seu posto, pesquisa no indivíduo deverá ser continuada pelo Dr. Marsh.


Um Desaparecimento
Tipo: Volume
Localização: Décimo quinta unidade, Odsek
Classificação: Primeiro Elemento
Nível de Segurança: Baixo.

Manutenção: O volume deve ser mantido com os outros volumes de acesso restrito e baixo nível, e não deve ser removido de sua sala durante pesquisa. A porta da sala de volumes, por conta deste e outros, deve ser apenas aberta por fora. Qualquer um que adentrar a sala deverá ser mantido trancado nela até o fim de sua operação.

Notas de pesquisa de Dr. Makari:

"Um Desaparecimento" é um exemplar de um manuscrito aparentemente feito em 2117. Não há nele qualquer informação sobre uma editora ou autor e, até então, não existem registros de publicação de nenhum livro com este título neste século ou nos duzentos anos desde então, que batam com a descrição do manuscrito. Ele possui, exatamente, 15 páginas.

A obra é um artefato simples, na verdade. Segundo as cobaias sobreviventes, seus conteúdos falam sobre uma pessoa solitária, com descrições vividas de uma terra desolada e escura na qual ela vaga, procurando por algo. É claro, não há uma completa descrição da história, pois quando lido em sua inteiridade, o livro irá fazer sua vítima desaparecer por completo. Ao menos, isso tornou a classificação simples. Não há dúvidas sobre o trabalho d'O Fim, em sua simplicidade.

Lido parcialmente, porém, experimentos revelaram que os efeitos de desaparecimento podem ocultar completamente a presença para todos os sentidos, incluindo para câmeras e meios de detecção eletrônica. Os testadores, porém, relatam que é um tanto difícil parar de ler uma vez que se começa. Dada a quantidade das cobaias recorrentes que foram perdidas na pesquisa, parece fácil concluir que esta compulsão se torna mais difícil de resistir com frequência de uso.

Encontrado originalmente na sala de arquivos da academia oriental de artes ocultas de Odsek, as duas teorias melhor aceitas da aquisição do volume são:

1 - Ele foi deliberadamente colocado em nossa posse por influência de algum dos elementos, mais provavelmente o segundo.

2 - O antigo usuário do livro tentou invadir a academia com as habilidades de ocultação concedidas por este, e acabou sucumbindo à compulsão do livro.


Frutos de lótus (O-005)
Tipo: Objeto
Localização: Primeira unidade, Stena.
Classificação: Quarto Elemento
Nível de Segurança: Médio

Manutenção: Cada um dos itens deve ser mantido em um container hermeticamente fechado em um cofre próprio. Em nenhuma hipótese alguém deve acessar os artefatos senão para pesquisa. Pesquisadores devem usar trajes de proteção completos, a modo de tornar odor indetectável e impedir consumo.

Adendo 01 - Devido ao incidente registrado no documento 13, pesquisa em O-005 está suspensa até que se localize sua fonte.

Notas de pesquisa do Dr. Montgomery

"Era como se eu tivesse visto cores pela primeira vez na minha vida, e agora eu estou presa num mundo cinza de novo."
- Excerto da entrevista com Nityia Patel, moradora de [REDIGIDO]

O-005 eram, originalmente, 12 frutos da espécie Nelumbo nucífera, cada um com exatamente dez sementes. Ao tempo de escrita, restam apenas O-005B, O-005D, O-005G, O-005H e O-005L, devido à natureza perecível dos objetos para sua pesquisa e acidentes ocorridos durante esta.

Todos os exemplares de O-005 foram encontrados originalmente no vilarejo [REDIGIDO], no interior de Stena. Com seu baixo número de habitantes, foi notável a quantidade de pessoas que pararam de trabalhar e que apresentavam comportamento errático. Enquanto originalmente se pensou um problema comum de drogas, a incapacitação contínua fez ser chamada a academia. Através de entrevistas, sabe-se que os frutos foram tragos por um mercador viajante ainda não identificado, vez que a espécie sequer cresce em Stena.

Quando ingeridas, as sementes de O-005 induzem um estado profundo de êxtase no usuário. O efeito de felicidade é temporário e pode durar entre 4 e 78 horas, a depender do indivíduo. A sensação é tão intensa que, não querendo perder nenhuma parte dela, indivíduos normalmente irão se manter acordados durante a duração. Os entrevistados do incidente original e cobaias subsequentes reportam que os momentos sob o efeito da droga foram, inequivocamente, "os melhores de sua vida".

O-005 é, por conta disso, altamente viciante e antigas cobaias e até mesmo pesquisadores tentaram inúmeras vezes roubar suas instâncias durante pesquisa para voltar ao estado de "pura felicidade" que descrevem. Enquanto vício, como um vetor de controle, é tradicionalmente associado ao Segundo Elemento, o aspecto emocional levou à reclassificação do Objeto como uma manifestação do Quarto Elemento.


Espécime 045
Tipo: Espécime
Localização: Vigésima terceira unidade, Hrast
Classificação: Terceiro Elemento
Nível de Segurança: Baixo.

Manutenção: Dadas as dificuldades encontradas para mover o espécime, deve ser promovida a criação de uma instalação especial a volta deste. Uma área de 35m² à volta de E-045 deve ser interditada através de cercas elétricas, que serão mantidas de forma padrão. O emprego de até 3 agentes deve ser feito para impedir a entrada de civis, e um quarto agente deverá ser colocado para controlar a entrada de eventuais pesquisadores.

Notas de pesquisa da Dra. [REDIGIDO]:

"Vocês podem ficar com a árvore, com a fazenda, eu não me importo. Essa terra é amaldiçoada, eu só a mantinha porque achava que minha filha se beneficiaria de crescer como eu cresci... e isso não importa mais."
- Relato de [REDIGIDO], precedendo a doação de suas terras à academia.

E-045 é, ao tempo de escrita, quatro indivíduos da espécie Malus domestica, aparentemente geneticamente idêntico ao vegetal. A árvore original (E-045A) foi encontrada em uma fazenda em [REDIGIDO], a academia chamada após um incidente doméstico que resultou na hospitalização e morte subsequente de uma das moradoras, [REDIGIDO]. Subsequentemente, dois dos pesquisadores enviados para investigação foram hospitalizados após entrar em contato com os frutos do espécime, apenas um deles sobreviveu.

Aparentemente, os frutos da árvore possuem o efeito de uma atração anômala e, durante uma de nossas pesquisas com o espécime, frutas produzidas por este foram preferidas como mais apelativas e chamativas que outras similares para 92% dos respondentes. Sementes dos frutos se mostraram incapazes de crescer quando plantadas em solo.

As frutas demonstram sua real natureza, porém, quando ingeridas. Apesar de relatos do único sobrevivente do espécime que descrevem o gosto como desagradável, aqueles que começam a ingerir o fruto sofrem de uma compulsão para continuar comendo dele, em pesquisa, tentativas de impedir os testadores de continuar se alimentando escalaram até situações de violência e tranquilizantes de ação rápida se demonstraram inefetivos em impedir o processo.

Pouco após a ingestão da fruta do espécime 045, a vítima irá sofrer de lacerações profundas em seus órgãos internos, concentradas principalmente no trato digestivo. As lacerações, estudadas em autópsia de 12 dos testados, foram concluídas como marcas de mordida correspondentes à arcada dentária respectiva. As marcas severas quase unilateralmente resultam na morte da vítima.

Se deixados em contato com o solo, porém, os cadáveres mortos desta forma irão ser gradualmente enraizados, conforme as sementes do espécime 045 se proliferam. Esta parece ser a única forma de reprodução possível para o espécime e foi um processo que se permitiu ocorrer, ao tempo de escrita, três vezes, criando os espécimes E-045B, E-045C e E-045D, todos estes são geneticamente idênticos a E-045A e possuem as mesmas propriedades.

Adendo 01 - Testes humanos com o Espécime 045 devem ser suspensos indefinidamente.

Adendo 02 - Datado de novembro de 2311, o uso de força letal não será mais permitido para impedir a entrada de civis segundo ordens de [REDIGIDO].


O Planner
Tipo: Volume
Localização: [REDIGIDO]
Classificação: Segundo Elemento
Nível de Segurança: Alto.

Manutenção: O Planner deve ser contido em seu compartimento selado a todos os momentos, removido apenas para pesquisa. Pesquisa pode ser apenas autorizada pelo conselho deliberativo da academia e deve ser precedida por um membro sorteado pelo conselho acessando o item para certificar-se que o pesquisador apontado não está comprometido. A senha para a sala onde o compartimento está e a biometria do cofre que contém o Planner devem ser mantidas por apenas um funcionário de classe D cada um. Ambos devem ser colocados em um coma induzido e mantidos em [REDIGIDO] e [REDIGIDO], de modo que estejam o mais longe o possível do Planner e um do outro. Em caso de brecha na segurança, o protocolo deve ser ativado para que se inunde o quarto com concreto e a proteção do Planner é de alta prioridade.

Notas de pesquisa do Dr. [REDIGIDO]:

"... Foi assim que matei Richard Lancaster. Eu não o queria, é claro, mas você sabe a este ponto que não importa. Eu fui gananciosa com o livro e ele não mais vê utilidade em mim. Então ele me fez vir aqui e contar minha história, e dá-lo a vocês antes do meu "acidente". E aqui está, quando a hora chegar, vocês irão tê-lo por perto."
- Excerto da confissão de Sierra Lancaster durante sua doação à academia.

Durante meus anos como pesquisador na academia, a influência da Matriz sempre foi uma preocupação, que parece estar presente desde os tempos da diretoria de Haynes. É consenso acadêmico que os livros são uma espécie de manifestação preocupante da força das Entidades, por seus efeitos intensos e instáveis. Por conta disso, procedi com cuidado no estudo do volume doado pela Sra. Lancaster.

O Planner é uma pequena agenda, com uma capa de couro preta sem decorações imediatamente aparentes. Um adesivo branco na capa em perfeita condição que indica apenas o nome do dono do livro. Está vazio como se completamente novo, apesar de ter o nome de Sierra Lancaster quando foi doado. Muitas das páginas estão coladas juntas e pelas pequenas marcas ao longo das pontas, compartilhadas por outros exemplares, é possível concluir que este é mais um dos livros que é resistente a ser queimado ou destruído por outros meios físicos e, pelas outras propriedades do livro, decidi por não fazer o teste definitivo.

A agenda em si é separada por páginas correspondendo a semanas específicas, segmentadas pelos dias da semana. A entrada mais antiga acessível é de setembro de 2298: "Sábado, 3:00, [REDIGIDO]: deixar o livro na escola preparatória [REDIGIDO], sala 203". Há diversas entradas em outras caligrafias na agenda, mas esta é a única que se repete ao longo dos anos. Todas as entradas seguem o mesmo formato. Um horário, colocado dentro do dia da semana correspondente à página; um nome; uma tarefa. Meus experimentos revelam que escrever no livro apenas é possível pelo dono, nenhuma das minhas canetas ou lápis surtiram efeito nas páginas até que eu escrevesse meu próprio nome no adesivo.

Extensivos testes revelam que aquele que detém o livro pode escrever tarefas em semanas futuras, que irão compelir aqueles citados na entrada a realizá-las. Apesar dos limites ao possível, aqueles que são afetados irão tentar até mesmo das coisas mais ridículas e em muitos casos não parecem notar a influência em suas ações. O caderno parece ter certo temperamento, e irá interpretar à sua própria maneira a requisição. Isto elucida o caso de Sierra. As lesões de sua filha parecem ter se originado em experimentos iniciais onde ela desejou "colocar um sorriso no rosto" dela. A entrada seguinte pede que o marido confesse a agressão. Uma série de pedidos por doações são feitos nas semanas seguintes, mas de forma interessante a caligrafia da primeira entrada voltou a aparecer, ordenando Sierra e aqueles em sua vida. Ela falava a verdade sobre o pedido do livro para ser doado para a academia, e o infeliz acidente de carro em que ela seria envolvida no mesmo dia.

Minha pesquisa, infelizmente, não deverá ser continuada. Isto é muito poder para qualquer pessoa deter consigo e, além do mais, o erro de oferecer meu nome ao Planner se tornou evidente quando li as entradas desta semana. O livro deseja ser guardado e é o que consta na minha agenda de hoje. Aparentemente, eu irei entregar minha resignação da academia amanhã. Fiz a decisão de não ver mais páginas futuras, prefiro não saber o que mais foi planejado para mim.


ELEMENTOS DA MAGIA, DE ALARIC HAYNES

11° edição 

O livro Elementos da Magia foi uma obra essencial para a consolidação do ocultismo como ciência e suas edições subsequentes contém a pesquisa do ocultista Alaric Haynes, atualizadas até a décima primeira edição, publicada pouco tempo antes de seu desaparecimento da academia.


Sobre Impostores e Legado


"Essa é a área de vocês, não é? Não tem como isso ser feito sem... As coisas estranhas daqui. Ele mudou as fotos, convenceu todo mundo de alguma forma. E se meus pais estiverem em perigo? Eles confiam nele, acham que eu sou louco. Eu só quero meu irmão de volta, vocês tem que fazer alguma coisa"
- Relato de Hugh Oprys, sobre a coisa que não era seu irmão.

Nas nossas pesquisas quanto ao que agora entendemos como Zumbis, outra criatura alinhada ao Estilhaçado faz sua aparição entre os relatos. Procurando por "pessoas que não são mais as mesmas" parece ter sido uma escolha de palavras errada entre nossos pesquisadores, e muitos daqueles que deram os relatos, como o Sr. Oprys e a Srta. Winters, vieram a nós com um tipo bem diferente de manifestação.

Na maior parte daqueles com que conseguimos contato, qualquer avaliação psiquiátrica e neurológica não demonstrou nada de errado. Ainda assim, todos eles clamam que uma pessoa específica em sua vida desapareceu, substituída por um impostor que não se parece em nada com ela. Fotos, gravações e qualquer registro de memória que provaria a existência anterior do desaparecido são completamente adulterados, substituídos com este "Impostor".

Honestamente, eu estava inclinado a descartar esta tangente na pesquisa como um efeito psicológico adverso, talvez até mágico, mas um fenômeno de percepção simples. Mas em todos os cinco casos encontrados até agora, todos em Hrast e todos temporalmente separados, não foi possível entrevistar o suposto impostor, que desapareceu ou foi dado como morto antes que qualquer agente da academia pudesse chegar até eles. Em dois dos casos os delatores foram também dados como mortos, o primeiro sendo Senka Teagan que relatou o desaparecimento de um tio distante, foi o único corpo encontrado nos restos da casa do suposto impostor após um incêndio; Lillian Scott, que relatou o desaparecimento da filha, cujo caso foi dado como suicídio por overdose, a criança também desapareceu.

O último dos meus fatores na decisão de perseguir este assunto em uma campanha investigativa separada foi um trio de fotos produzidos pela Srta. Winters. São fotos do casamento de sua mãe, tiradas de uma câmera polaroide pessoal, que mostram uma mulher completamente diferente daquela em todas as outras gravações e imagens da ocasião feitas por câmeras ou celulares.

O "Impostor", isso se há apenas um, não parece realmente interessado em algum objetivo específico, ainda que seja parte do Estilhaçado. Se esta for, de fato, uma criatura comprovada, é quase um alívio que pareça preocupada apenas em causar caos e confusão sem direção. Por sua capacidade de reescrever memória e a realidade em si quase que como um reflexo, me assusta pensar do que seria capaz se tivesse um propósito.



"O truque está nos olhos, sabe. Claro, ele fingiu gritar quando eu 'sem querer' queimei ele com a frigideira, e fez uma maravilhosa interpretação de luto quando o gato dele 'desapareceu'. Mas bastava um olhar para aqueles olhos e eu sabia... Não havia nada por trás. Óbvio, não há nenhum problema em Liam andando por aí fingindo viver uma vida, é inofensivo, mas deve ter mais deles por aí, né? Enfim, só achei que valia a pena avisar vocês, lidam com essas coisas, não é?"
- Excerto do Relato de Philipia Bell, sobre o argumento anti-materialista.

Um zumbi, originalmente um conceito meramente filosófico e hipotético, é alguém que demonstra todos os sinais externos de emoção e inteligência de um ser humano, mas não é dotado de consciência. Por mais que pareçam em todo sentido mensurável ser um humano, zumbis não são capazes de sentir ou pensar. Cascas vazias, determinadas a ser pessoas.

Algumas pessoas, como a Srta. Bell, parecem capazes de notar a diferença apenas observando-nos pessoalmente, mas até então apenas um exame post mortem do córtex cerebral se provou certo em determinar se alguém é um zumbi. Nas pesquisas locais da academia em necrotérios locais e com nossa nova "perita" contratada, pelo menos 6% da população é composta por estes zumbis, mas maior pesquisa é necessária para extrapolar números em um nível global, provavelmente irei deixar um pedido formal.

[...]

A ideia de autômatos seguindo roteiros de vidas me soou o trabalho da Matriz primeiro, mas posso dizer com confiança agora que se trata do Estilhaçado. Talvez estas sejam as mentes que retornaram à entidade em sua missão de se unificar. Só não tenho certeza se eles nascem assim ou se são... Esvaziados, de algum modo. E, francamente, não sei qual das opções me assusta mais.


Sobre Espíritos e Aparições


"O anormal se torna rotina, depois de um tempo. Ela não me ouve, não minhas perguntas do que está errado, meu implorar por paz, nada. Então pra que dar soco em ponta de faca? Não é como se eu pudesse me mudar. Virou tradição, saímos na quinta-feira em família pela noite e deixamos ela gritando pela casa ali. Além do mais, ela nunca levantou um dedo, parece ter a própria rotina dela, então a deixamos com ela. Minha filha que viu o anúncio da sua academia na Internet e ficou enchendo o saco pra eu contar nosso caso. Mas eu não vou pagar por serviço nenhum, já deixo avisado."
- Transcrição do testemunho de Lisa Novogratz, sobre o fantasma em sua casa.

A questão do que ocorre após a morte está sobre a humanidade há muito tempo, e é completamente natural que consideremos nossa mortalidade. A história está completa de pós-vidas dos tempos da superstição e coisas nas quais nos transformamos quando morremos, até mesmo hoje aqueles que não são supersticiosos às vezes tentam fingir que há algo esperando, se distrair da finalidade da morte. Mesmo com meu estudo das entidades, nenhum tipo de pós-vida me parece claro, a morte parece nos colocar, ao menos, completamente fora do alcance das entidades, pelo menos em mente e consciência. Eu pensei que as superstições sobre espíritos eram a mesma bobagem, mas parece que estava errado.

Estas imagens de pessoas que já se foram parecem desconectadas do mundo de quase toda forma, com exceção dos sentidos. Eles parecem reter a habilidade de se manter escondidos, mas não é claro se isto é sempre voluntário. As aparições são variadas e parecem ter diferentes níveis de manifestação. Alguns deles são apenas vozes sem corpos ou imagens mudas, outros mais completos. Muitos deles funcionam como gravações, se repetindo ou seguindo uma série padrões. Ecos de antigas vidas, tentando ser ouvidos. A maior parte parece completamente inconsciente de seu estado ou da existência de pessoas vivas que não conheceram, mas encontrei alguns de maior inteligência, cientes tanto de que não são almas dos mortos e capazes de interagir com outros.

Por mais que seja uma tentadora conexão, estes espíritos parecem diferentes da Morte. O instinto da entidade é sempre de destruir, parece pouco característico que ela deseje restaurar vida mesmo que com estas formas espectrais. Não, os fantasmas parecem coisas que nós deixamos para trás, agarradas por algo diferente.

Eu já estou muito familiar com o Vigia a este ponto, na presença destes fantasmas foi fácil notar a afiliação. Não sei se há algum padrão no que faz o Vigia preservar a memória de alguém como um fantasma, mas eles são conhecimento, segredos deixados no plano material, tentando se propagar, disponíveis para acesso. É honestamente fascinante, talvez sejam minhas conexões estejam crescendo, mas me dá um pouco de conforto. Eu gostaria de pensar que, mesmo depois que eu não estiver mais aqui, meu nome vai se manter de uma forma ou de outra.


Vampiros


"Imagine que você é uma mão, capaz de conceber de si mesma. Movida a agir por impulsos de origens desconhecidas que não pode completamente entender. Eu creio que muitas das coisas que você procura são assim, mas esta é a melhor prova que você pode manter de que suas 'entidades' não funcionan de uma maneira tão direta. Afinal, se você quer jantar, nem todo tempo é gasto comendo, ainda mais se suas panelas tem livre arbítrio."
- Excerto das considerações de Jericho Kristen, um autoentitulado "caçador de monstros".

Minha amizade, ou talvez parceria, com o Sr. Kristen se provou valorosa mais uma vez em descobrir e classificar as criaturas manifestadas pelos elementos.

Normalmente, com as excentricidades de minha testemunha, um processo de verificação intenso precisa ser feito. Desta vez, talvez pelas investigações anteriores, Jericho se superou. O cadáver oferece credibilidade suficiente aos relatos de "vampiros" com os quais ele vem me importunando a anos.

"Eu não acho que eles são como os seus... Como chama sua teoria mesmo? Não importa, o que quero dizer é que eles nunca foram humanos. Mas são quase idênticos, como nosso amigo aqui."
- Transcrição da entrevista com Jericho Kristen.

A autópsia do vampiro de Kristen confirma sua capacidade de se passar por humanos. Há, é claro, apenas a diferença gritante do trato digestivo. A boca de um vampiro abre-se consideravelmente mais do que a de um ser humano e, é claro, as diversas fileiras de dentes serrilhados são outra diferença notável. Eles carecem de um trato digestivo completo, sua língua é um lingo tubo fundido ao esofago, que segundo Kristen é usada para sugar sangue das profundas feridas de sua mordida. Seu estômago ocupa boa parte do corpo, substituindo os intestinos e estando completamente desconectado do reto. A área é altamente vascularizada.

"O primeiro que encontrei foi um acidente. Bem, na verdade, a coisa me encontrou. Eles são caçadores também, sabe? Eu não tenho ideia de como eu não percebi que ele não estava falando."
- Transcrição da entrevista com Jericho Kristen.

Para manter seu disfarce, o vampiro não abre sua boca até o momento de sua alimentação. Seu método primário de comunicação parece anômalo, o "charme de um vampiro", como chamado por Kristen, permite não apenas que ele se faça entender apenas pelo olhar, como parece deturpar os sentidos de sua vítima para que não perceba que captou uma mensagem não falada. Este efeito também parece aumentar a sugestibilidade da presa, facilitando o isolamento e eventual ataque.

É um espécime interessante. Fiquei muito tempo pensando em que propósito a criação teria para um predador perfeito. Eu até pensei que eles foram feitos especificamente para reintegrar seres humanos na cadeia alimentar, da qual a civilização moderna nos removeu. Mas não estou certo, ainda, talvez as Entidades não planejem todas da maneira que pensei. Talvez esta só goste de criar caçadores.


Sobre Musas e Inspiração


"Vocês as temem pois são ignorantes ao fato de que elas permeiam todas as pessoas. Não há nada em meu coração senão piedade por vocês, que navegam o mundo se fingindo mestres de seus próprios corações, recusando-se a encarar a realidade horrível da condição humana."
- Excerto das filosofias de Maxwell Hermann, em relato à Academia após sua prisão.

Eu tenho ainda uma certa dificuldade em entender se estas coisas são de fato criaturas, como algumas das vítimas clamam, ou se são apenas um fenômeno, histeria que afeta aqueles azarados o suficiente para chamar a atenção indesejada dos elementos. Vendo alguns casos extremos de "cólica dos pintores" ao longo da história, é difícil pensar que apenas intoxicação por chumbo é a culpada.

Aqueles que falam de musas descrevem uma espécie de presença. Não é exatamente uma voz, apenas aqueles em estágios avançados de corrupção veem ou falam diretamente com as musas, é um sentimento. Inspiração simples, o chamado a fazer algo. Não surpreendentemente, artistas são os mais vulneráveis às musas. Elas não são descritas como sempre presentes, mas sua ausência parece causar uma sensação de vazio e uma queda na capacidade criativa.

Para manter as musas por perto, muitos dos artistas afetados dizem que elas pedem "provas de devoção". Estas provas variam, mas parecem testar os limites de até onde o afetado está disposto a ir. Pedidos por obras específicas, sangue, objetos, atos de automutilação como a retirada de dedos e outros apêndices como orelhas, e em alguns casos, sacrifícios diretos, animais ou humanos.

Estas manifestações da Cólera, porém, parecem ser principalmente psicológicas. Nenhum dos artistas que entraram no radar da academia puderam produzir provas concretas da presença de suas musas, mesmo aqueles que clamam ter visto e interagido diretamente com elas. Até mesmo as séries de supostas feridas causadas por musas irritadas foram reveladas sob maior investigação como autoinfligidas, mesmo as mais brutais.

Ao que tudo indica, são apenas sinais de uma mania muito específica, mentes tocadas pela Cólera que são levadas a loucura. E mesmo assim... Talvez, desta vez, seja melhor deixar este mistério para o estudo geral da academia. Na chance de que elas sejam de fato criaturas, eu não acho que quero atrair atenção indesejada enquanto escrevo.


Aqueles que Perseguem Espirais


"E portanto, Haynes, escrevo para você implorando por ajuda, interferência, qualquer coisa. O que está acontecendo não é justo, e eu não posso perder minha filha. Seu fiel servo, Thomas Allyn."
- Excerto da carta de Thomas Allyn, enviada para Allaric Haynes em 2250.

Enquanto um caso isolado, a espiral achada por um dos meus colegas de pesquisa é um exemplo interessante das manifestações do Fim, que se provaram um tanto difíceis de estudar.

Allyn relata ter encontrado a espiral em uma floresta do interior de Meren. A estrutura era composta por uma série de pedras lapidadas e organizadas no formato, com uma rocha maior no centro, que parecia servir como uma forma de altar. A localização parecia, obviamente, artificial, mas Allyn não tem certeza se a clareira na qual ela se encontrava era uma formação natural ou se a vida vegetal no lugar parou de crescer apenas após a criação do "mecanismo".

"Eu não deveria estar sendo punido por isso. A única coisa que eu fiz foi chegar muito perto. Eu queria saber o que era a coisa no centro e..."
- Excerto da carta de Thomas Allyn, enviada para Allaric Haynes em 2250.

Allyn encontrou, no centro do que atualmente pensamos ser um ritual, uma bandeja de vidro repleta de alguns ossos de animais e uma mecha de cabelo loiro, que ao que tudo indica é humano. Ele soube assim que tocou a bandeja que cometeu um erro.

Ao tempo da escrita deste capítulo, o progresso do fenômeno foi o seguinte: a propriedade de Thomas Allyn já estava em chamas quando ele retornou de sua expedição, os materiais sobreviventes de sua pesquisa e o trabalho de sua vida foram perdidos pouco após a recuperação dos escombros em um roubo que se sucedeu na noite seguinte. Ele apenas notou que algo estava errado três dias depois, quando seu parceiro, Lukas Allyn, morreu por uma súbita falência de seus órgãos, de causa ainda não identificada. No dia seguinte, álbuns de fotos, presentes e recordações do casamento desapareceram, incluindo a aliança usada por Thomas.

É interessante. Eu tenho feito pesquisa naqueles que se envolvem diretamente com as entidades, mas nunca pensei que a Morte seria uma escolha popular. E ainda assim, é difícil de negar que o local relatado por Allyn foi feito por mãos humanas. Um ritual, talvez? Ou um local de adoração.

Eu devo ajudá-lo, é claro. Mas... Até onde isso vai? O que o Elemento considera que deve ser destruído na vida de Allyn, apenas as coisas que ama? Apenas coisas físicas? Talvez eu devesse pedir que ele continuasse a investigação no propósito do lugar, não é como se fosse piorar. Mas claro, ajudá-lo. Eu provavelmente irei ajudá-lo.


Sobre Compulsões, Controle e Invasores


"Haynes, você me conhece. Eu não ganhei nada com o que aconteceu, metade do que foi destruído foi minha pesquisa! Foi a urna, era como se eu estivesse fazendo todas aquelas coisas, racionalizando que as ações não foram minhas. Fazia tanto sentido na hora, foi só depois que eu sequer percebi a influência."
- Relato de Christine Yael ao diretor da academia.

É bem raro que eu conclua ter em minhas mãos uma manifestação genuína da Matriz. Originalmente, eu pensei que isto era apenas uma propriedade da entidade, algum tipo de magia mais rara. Até mesmo considerei riscá-la de minha classificação original na segunda edição de "Elementos da Magia".

É claro, este incidente e todos os outros são apenas um sinal das tendências da entidade e provas de sua existência. Enquanto parece interessada em interferir com meus estudos, principalmente depois da fundação da academia, a Matriz parece deliberadamente evitar estudo.

O caso da Dra. Yael é um dos mais extremos, mas é conhecimento antigo que o elemento pode influenciar as ações de outros, os compelir a tomar certas ações. Isso é algo diferente, porém. A coisa na urna era uma presença, algo separado de uma manifestação pura.

Christine está em custódia da academia, por tempo indeterminado. Ela não parecia mais interessada em incinerar arquivos, mas ainda mostra sinais da possessão. Há intervalos de tempo, em custódia, em que ela se senta no centro do quarto onde a deixamos, olhando diretamente para a câmera. Em entrevista, ela não consegue explicar por que tomou a decisão, mas nós dois sabemos que não houve escolha alguma no ato. Aparentemente, o invasor toma mais controle a cada dia, visto que o tempo de seu comportamento anômalo está aumentando. Talvez eu consiga, em breve, uma entrevista com a coisa.


ᵀᴹ Grazindinha
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora